Ladrão

domingo, 20 de setembro de 2009

Então estava eu lá. Caminhando pela rua. Acho que indo pro trabalho.... Estava no centro do Rio. Passei em frente a Caixa Econônica e o rapaz correu.
Foi nessa hora que lembrei que estava sonhando.
E agora, Alya? Mais um sonho lúcido. O que devia fazer?

O rapaz, um lourinho, sem camisa, de calça jeans e chinelos levou o dinheiro da senhora que estava em frente à porta do banco. Sacanagem! - pensei.
Era todo o dinheiro que ela tinha pra pagar o aluguel e a mensalidade da filha... Droga! Detesto quando estas informações entram em minha cabeça! Ser superconsciente as vezes é doloroso!

Em um segundo via o rapaz correndo e no outro já sabia que a senhora era viúva, do aluguel, da mensalidade e que o rapaz tinha um padrasto que batia na mãe dele...! Droga! Ele ia usar o dinheiro pra dar um "tapinha", comprar um tênis e ir pra balada - quem sabe deixava algum com a mãe.
Saco!!! Que faço!? Bem... o sonho é meu, não é? Não vou deixar que filho da p... nenhum roube e se dê bem num sonho meu... mesmo que tenha suas justificativas.

Nem se passaram dois segundos e eu já estava no ar.
Sempre foi muito fácil pra eu voar em meus sonhos... quer dizer... desde que soube que podia fazê-lo, lá pelos 8 anos de idade mais ou menos. De início era exporádico. Diversão de pequena frequência. Depois que me apaixonei a primeira vez e o perdi, e com a perda desejei estar perto dele em sonho, essa capacidade foi ficando mais intensa - Até as coisas piorarem e eu ter que fazer um curso de Projeciologia pra me controlar...
Bem, isso é outra estória...

Num segundo o rapaz estava correndo e no segundo seguinte eu estava no ar.
É fácil. É só fazer com que seus chacras te sustentem. Os chacras plantares dão impulso, o cardíaco, junto com os palmares, estabilizam o voo, os pulmonares impulsionam pra frente... Nada de mais.
O mais difícil é controlar a velocidade.
Dependendo da vontade você se lança com uma força tal que perde a noção de espaço. É difícil controlar seu pensamento para avançar um metro de cada vez quando você tem a velocidade do pensamento para estar onde quiser. Normalmente perco o alvo quando voo na velocidade do pensamento. Vou parar muito distante de onde estava. E se não reconheço aonde estou, tendo a perder a consciência. Talvez pelo esforço. Talvez por ser fraca. E volto a sonhar normalmente... inconsciente. Assim, voar rapidamente mas consciente dos metros que se está avançando é melhor. Eu não me perco.

Ergui-me uns 5 metros do chão e avancei na direção do rapaz que agora corria a minha frente. As pessoas olhavam, umas perplexas, espantadas, outras mais preocupadas com sair da frente. Não me preocupei se elas estariam espantadas com minha capacidade ou com a situação: um ladrão correndo, uma perseguição. Não sabia em que universo estava.

As vezes - muito raramente - sei em que universo estou. Umas vezes sinto que estou no universo paralelo; aquele em que todo mundo é onírico e tem capacidades iguais as minhas; noutras, no mundo dos mortos - você pode chamar do que quiser: umbral, purgatório, céu, colônia... não me importo, não sou religiosa. E outras, no mundo dos vivos, ou algo próximo, onde as pessoas têm as reações esperadas de quando estamos acordados, isto é, se surpreendem, fogem, gritam, enfim... Como você reagiria vendo uma mulher de salto, bolsa e trajes executivos voando, sem nenhum aparato, à 5 metros de altura?

Alcancei o rapaz em poucos segundos... caí, literalmente, em suas costas, travando-o com meu peso e pernas no chão. Não doeu... ao menos não pra mim. Ele bateu com as mãos tentando amortecer a queda. Seu rosto quicou no asfalto, machucou mas não sangrou. Um "ai" meio estrangulado e abafado foi o que ouvi.

-- Que coisa feia, rapaz? - disse meio sarcástica - Aonde pensa que vai? - completei me lembrando de uma fala de filme.
-- Merda! Que isso? Sai de cima de mim! - xingou ele com raiva. Começou a se debater e virou-se por debaixo de minhas pernas. Seu rosto assustado.

Sabe que ele era até bonitinho? Estava meio sujinho, mas me lembrava o James de Crepúsculo... (Caraca, tenho que parar de ler esta série... Já está entrando nos meus sonhos lúcidos!...)

-- Devolve! Seu filho da mãe! - gesticulei com as mãos.

Ele ficou tão assustado quando me viu que paralisou...

Será que eu estava Agnostha de novo? Minha pele grafitti brilhante, feita de metal reluzente, meus olhos brilhando sem íris e sem pupila, como uma pérola? Acho que sim... meu peso o mantinha no chão como preso a uma rocha... eu nem o sentia se debater...

Ai... não queria pensar em minha aparência... Agnostha ou não, meti minha mão na calça dele - ele tinha tirado o dinheiro da bolsa, enfiado na cueca e jogado a bolsa fora na corrida - senti aquela área quentinha e volumosa... arfei - Ai meu Deus! Um descuido e fico inconsciente! Volúpia é um saco!!! Transforma qualquer sonho em sacanagem! - e puxei o dinheiro.
Olhei pra ele com cara acusativa. Ele ainda assustado. Levantei sem dificuldade, libertando-o.

-- Sai daqui! - disse apontando o caminho.

Ele não falou nada, os olhos cravados nos meus, branco feito vela... Ergueu-se como se estivesse tentando encontrar o próprio corpo, meio devagar e depois, catando cavaca, correu como quem corre do tal (aquele que nunca menciono...).

Fiquei olhando-o sumir em meio ao povo que se juntava. Olhei o dinheiro em minha mão. Olhei em volta e vi a senhora encostada junto a uma arara de uma loja. A mão na boca, olhos atônitos, vincados no cenho. Será que ela correria de mim se eu me aproximasse? Mesmo com o dinheiro dela em minhas mãos, numa oferta clara de devolução?

Dei um passo. Melhor, não. Olhei pra ela, fiz sinal que o dinheiro estava ali. Abaixei-me e pus o dinheiro no chão. Olhei em volta com uma cara de repreensão. Ninguém chegaria perto daquele dinheiro, sem dúvida, a não ser a tal senhora. As pessoas congeladas onde estavam.
Era melhor sair... Voar dali... Estava ficando inconsciente porque entristecia... Ia acabar tendo um sonho ruim na sequência e não queria aquilo.

-- Voe, Alya!

Alcei voo reto para o céu. Deixei a velocidade do pensamento me dominar.
Céu azul... Céu Negro... Estrelas... Limbo... Consciência. Ressonei. E em um segundo estava em minha cama. Eram 06:42 da manhã de hoje (veja a data do post).

Olhei pro lado quebrando a catalepsia.
Minha família - meu marido, minha filha entre nós (ela pulou pra nossa cama de novo!?) - ainda dormia. Olhei pro teto.

Caraca! Um psicólogo me internaria se eu contasse essa maluquice de hoje pra ele...
Mas isso acontece todas as noites. Toda noite estou num filme diferente. Nem sempre me lembro... Nem sempre tenho tempo para me lembrar... Mas hoje, lembrei. Precisei registrar. Se não registrar isso em algum lugar vai parecer que nunca aconteceu - na minha cabeça, quero dizer...
É por isso que decidi escrever este blog. Pra registrar isso. Isso e tudo o mais que me parecer desconhecido.... como eu mesma... uma desconhecida de mim mesma... Agnostha.

(Continua...)

Agnostha

sábado, 19 de setembro de 2009

Tudo que é desconhecido é agnosto, agnóstico.
"Agnosta", ΑΓΝΩΣΤΑ do grego, "desconhecido".
Como desconhecida pouco, é bobagem... esse blog ficou Agnostha.
Com H, pra ter mais charme... se tornar um nome.

Aqui você vai encontrar os fatos(?) mais estranhos que já aconteceram comigo.
Não pretendo seguir nenhuma cronologia.... é melhor assim... escrever o que der vontade de revelar...
Além do mais, isso é um blog, não um livro, embora tenha pensado em escrever um livro com os textos que estão aqui... será que alguém se interessaria em comprar minhas insólitas histórias?

Bem... se tiver paciência e mente aberta, poderá ler algumas coisas interessantes... encare como uma distração. Se bem que pra mim, é tudo verdade... como em um exercício de autoconhecimento.

Autoconhecimento de uma estranha... desconhecida... agnosta... Agnostha.

Deu vontade de ler? Comece aqui.