Agnostha (Parte1)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Deixa eu explicar como é este negócio de "estar Agnostha".
Confesso a vocês que de tudo que me é estranho, estar Agnostha é o mais estranho.

Não só pela profusão de sensações - que espero tentar fazê-los vislumbrar - mas porque tenho consciência que é algo que chega a soar meio ridículo... meio estória em quadrinhos, HQ, sabe?
Chego a ficar sem jeito para contar essa estória mas ao mesmo tempo é algo tão inerente ao meu mundo onírico, astral, irreal - seja lá que mundo que é esse o meu - que não dá para ignorar. Afinal, ela...quer dizer, eu...quer dizer, isso... dá nome a este blog.

Bem... foi tudo lá pelos anos 80. Eu era pré-adolescente (juro que vou fazer uma força danada para não revelar minha idade atual).
Havíamos nos mudado para uma nova casa própria - um feito para uma família brasileira já que todo mundo vive de aluguel.
Era uma casa num bairro residencial da baixada (também vou fazer uma força danada para não revelar meus endereços), térrea, recém-construída, ainda inacabada, mas tinha um amplo quintal e a possibilidade de expansão dos cômodos agradava meus pais.

Depois que minha mãe começara a trabalhar, nossa vida tinha melhorado sensivelmente - economicamente falando - e aquela casa era a primeira marca de um novo tempo para nossa família.
A ida de minha mãe para o mercado não só foi bom para nossas finanças, mas foi bom também para ela, como pessoa. Ela abriu os olhos em relação a muitas coisas.
Pessoas, governo, vida... Várias coisas que em seu mundo rosa de dona-de-casa eram perfeitas em si mesmas começaram a adquirir novos contornos mais realistas. E uma das realidades que mais nos impactou foi sua nova visão sobre seu marido, meu pai.
Depois de 15 anos vivendo sob sua guarda, dependendo dele para tudo, e sendo grata por isso, ela começava a perceber através de suas novas vivências como ele a controlava e o quanto era... digamos... infiel.

Suas desconfianças a levavam a crer que ele - como se diz mesmo? - "pulava a cerca" de vez em quando.
Ela nunca flagrou nada, nem tampouco algum incauto lhe afirmara nada, mas depois que ela começou a entender os esquemas da vida da rua, ver algumas ausências como comprometedoras e alguns sorrisos como dúbios foi uma questão de tempo até o início das brigas por ciúmes fundados e infundados.

Meu pai sempre foi um bom pai. Um pai que nada deixa faltar em casa, nem à mulher.
Ah, sim, sempre teve seus defeitos... Mas quem não tem?
Contudo, com o tempo as brigas foram se agravando. E, inevitavelmente, chegaram a um ponto crítico; com berros e troca de malediscências, onde não víamos, na época, outra saída a não ser a separação.
Eles faziam o possível para deixar a nós - eu, minha irmã e meu irmão - de fora das discussões. Mas havendo traição ou não, nenhum filho quer ver sua família dividida... e aquela fase gerou reações diversas.

Graças a Deus nenhum de nós se tornou um delinquente nem nada disso. Sabíamos que éramos amados, e esse amor nos aquecia e manteve nossa unidade básica, mas de qualquer modo éramos muito jovens, com a personalidade em formação, e as marcas ficaram através dos tempos até a atualidade.

Meu irmão, o filho do meio, ainda um menino na época, começou a ter notas baixas na escola e apesar de depois ter concluído o ensino médio, perdeu seu interesse pelos estudos acadêmicos. Tão logo se viu fora da escola tratou de arranjar um emprego e depois fez sua própria família.
Minha irmã, a caçula, ainda muito criança, se apegou mais aos amiguinhos e sendo tão carismática, até hoje possui este traço pessoal de ser a superpopular em todos os meios em que circula. E eu, a primogênita e mais introspectiva, me enfiei cada vez mais nos livros e nos estudos como um oásis de paz... como faço até hoje.

Ah, sim, a fase passou.... (de vez em quando ainda tem um arrancarrabo...) Os dois estão juntos até hoje. Aceitaram os erros do passado, curtem o presente, e mais apaixonados do que nunca em seus mais de 30 anos de casamento.
Como o mundo dá voltas... Acho que ao fim todos crescemos, de certa forma...

Mas foi nesta época, com esse clima pesado no lar, com a casa nova, escola nova e poucos amigos, que comecei a sonhar com o "cômodo-que-ninguém-ia". Que lugar sinistro!
(Continua)

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