Agnostha (Parte3)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Foi com alívio, surpresa e admiração que entrei naquele ambiente.
Sabe quando você fica fascinado e seu queixo cai...? Pois é. Fiquei com aquela cara de babaca...

Uma Biblioteca!

Era uma sala enorme. Com o pé-direito de uns 3 andares. Muito Alto.
De frente pra mim abria-se um amplo espaço numa sala que parecia ter o formato octogonal.
Não haviam paredes visíveis. Estavam todas cobertas com prateleiras cheias de livros. Livros com lombadas rústicas e outras modernas, finas e grossas, de todas as cores e materiais.

Uma suave luz entrava pelo teto que era ocupado por um vitral decorado com arabescos. Isso dava ao ambiente um ar angelical e agradável como numa manhã de sol.
Tudo parecia estar em animação suspensa, como se há muito ninguém entrasse ali. Ainda assim, não registrei nenhum odor, seja papel ou mofo, tão comum em bibliotecas. O ar parecia mentolado e frio.

Fiquei olhando para as paredes de livros... dando alguns passos enquanto admirava. Me virei e foi aí que notei o sarcófago... (Juraria que não estava lá há um segundo atrás...). Estava no centro do octógono.

Parecia mesmo um sarcófago egípcio deitado sobre uma mesa de mesmo contorno. As laterais eram decoradas com símbolos e imagens que só me remetem, ao que posso compreender, à cultura egípcia.
Franzi o cenho estranhando aquilo. Destoava do cenário medieval em volta. Me aproximei mais e vi que não havia cobertura. Estava aberto.

Do ângulo e distância em que eu vinha não podia ver seu interior mas sabia que iria ter algo ali dentro. No mesmo segundo minha cabeça começou a vagar por todos os filmes de múmia que já tinha visto (ainda bem que naquela época, o filme "A Múmia" de Stephen Sommers estava longe de ser lançado!).
O medo me inundava e fiz força para não acordar... Sabia que tinha que ir até o fim; confrontar o conteúdo do sarcófago e acabar com aquele padrão onírico de "cômodos-que-ninguém-ia".

Avancei mais um pouco. Mas lentamente...
Pude ver alguns contornos, que para minha surpresa, não possuíam as esperadas ataduras de múmia. Me aproximei mais e foi com alívio que reconheci um brilho. Espelho?

Confiante, me aproximei da lateral do sarcófago e fiquei extasiada com o que vi.

Não era um espelho... Era uma estátua.
Uma escultura. Representava uma mulher alta. Acho que tinha uns 2 metros de altura.
Jazia com as mãos e seus dedos compridos entrelaçados sobre o peito.

Seus traços eram finos. Me lembravam a rainha Nefertiti: um rosto anguloso, lábios grossos e nariz bem definidos com olhos que, se estivessem abertos, pareceriam ligeiramente desproporcionais àquele rosto de tão grandes que eram. Sobrancelhas finas emolduravam estes grandes olhos e faziam uma leve curva nas têmporas.
Sua cabeça parecia estar coberta por um capacete que remetia àquele adorno egípcio que pode ser visto na deusa Bastet, porém estilizado. Era curto. Não cobria o pescoço... Isso mesmo... seu rosto era uma mistura de Nefertiti com Bastet... só que com linhas mais ousadas... de uma certa forma contemporânea.

Que coisa linda! Um ar milenar com um toque futurista...

Quanto a seu corpo, não haviam linhas ou outros adornos que assinalassem roupas. Ao que tudo indicava, ela estava nua. No entanto, pelo que notei, este fora esculpido para parecer vestido, como se estivesse usando uma roupa de mergulho - ou algo similar - já que os ângulos revelavam muito, mas não tudo.

Era um corpo esguio, atlético, musculoso, mas sem exageros.
Seios proporcionais - nem grandes, nem pequenos; uma cintura fina seguida de quadris bem demarcados. Pernas fortes e compridas. Não haviam dedos nos pés. Estavam apenas insinuados, como em um sapato ou meias. Suas curvas eram muito aerodinâmicas. Ela era longilínea... Quase alienígena...

Alienígena, sim porque - acho até que deveria ter falado isso primeiro - ela era toda feita de metal... Isso mesmo. Uma escultura metálica... Um metal de cor grafite-escuro. Quase negro.

O metal negro - ou o que quer que fosse - parecia ter sido misturado a uma purpurina finíssima, prateada, que cintilava levemente ao longo de toda aquela obra de arte. Era como um aço polido... onde eu podia ver meu próprio reflexo distorcido sobre os ângulos de seu corpo.... (Daí a confusão com um espelho...)

Era incrível!!! Era linda!!! Era assustadora!!!

Eu fiquei encantada com tudo... A quietude e tranquilidade do sonho... as cores... o ar... o ambiente mágico... Eu... - a Alya-criança-quase-adolescente - admirando uma obra de arte... Era como um sonho mágico de uma noite de verão.

Sem notar... Sem ao menos ter consciência do ato... Minha mão direita - pequena, se comparada à dela - estava tocando os dedos sobre seu peito.
Curiosidade.

Mal estabeleci contato e sua cabeça se virou pra mim! Seus olhos se acenderam - literalmente - como se fossem feitos de mil leds branco-azulados e sua boca, mesmo sendo esculpida sobre o metal, esboçou um sorriso!

(Continua)

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